O Louco - Um exercício diário

O Louco - Um exercício diário

“Do homem ao homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.”

Michael Foucault, em Historie de la Folie à l’Âge Classique

    Um homem de olhar despreocupado, com vestes de bobo, uma pequena trouxa sustentada por um bastão e um animal em seus calcanhares. Para onde está indo? Estaria fugindo? Perdido? Procurando algo? Ou quem sabe iniciando uma jornada?
     Quebrar a cara. Ser demitido. Reprovar em um teste. O fim de um relacionamento. Provações. Mudanças. A linha tênue entre o início e o fim de chama recomeço.
     Não é à toa que se atribui ora o 0, ora o 22 como número desde Arcano; quando chegamos ao fim de um ciclo, é preciso começar de novo. Perdemos tudo, ou chegamos ao máximo, não importa, é hora de quebrar paradigmas, abrir mão do supérfluo, pensar fora da caixa, juntar o que foi essencial em nossa própria trouxa de pano e partir.
     Pra onde? Não importa. O Louco é o ponto de partida, a ingenuidade, a ousadia, a paixão e o desprendimento necessários para nos livrarmos do ego. É chegar à beira do precipício para que despencar possa. Não interessa mais ao Louco o que faltou, tudo pode ser conquistado agora. O Louco é você.

     É também a curiosidade, a incerteza e a imprudência. Joga na cara, sem cerimônias, nossas fragilidades, nossas fraquezas. E ainda ri disso. É o empurrão, o pontapé inicial, a falta de vergonha na cara necessária, o potencial de existência. Não é ter boas ou más intenções. É acordar e começar. Saber que do jeito que está, não pode ficar. Epifania.
     No caminho, podemos nos deparar com más decisões, escolhas erradas, nos mostrando que o Louco também tem sua sombra. Mas sem os tropeços, como aprenderíamos a caminhar? Acima de tudo, o Louco nos dá uma lição de autoconfiança. De dar uma chance a si mesmo. De recolher o que sobrou, levantar a cabeça e ir. Somos eternos andarilhos e andarilhos não possuem lar fixo. Somos do Mundo e o Mundo é nosso.
     Já diziam as más línguas (ou boas, isso fica a seu critério), que "de médico e louco, todo mundo tem um pouco". Não deixe que o Louco que vive dentro de você seja abafado pelo medo de sair do padrão. Ser Louco é ser visto como alguém sem amarras, e esse exercício de liberdade é algo que precisa ser praticado todos os dias.

                                                                                                               por Andressa Domingues