Hoje eu vim contar uma história triste.
Pela primeira vez, não terei espaços para muitas brincadeiras no post, devido ao
enorme respeito que tenho quanto à esta divindade. Falo de Set, deus egípcio do
Caos e do sacrifício necessário para a mudança. Este, que talvez seja um dos Deuses
mais demonizados até hoje, e eu farei questão de explicar o porquê de todas as
afirmações que faço aqui neste texto. Aviso logo que ele não será curto, mas se você
deseja informações rápidas sobre este Deus, aqui vai:
Cor: Vermelho.
Reina Sobre: Desertos, tempestades e Caos.
Esfera Cabalística: Chokmah (em breve explicarei)
Epítetos: O Lorde Vermelho. Aquele Pelo Qual o Céu Treme. Senhor dos Céus do Norte.
Trabalha melhor em: Fins Necessários. Relacionamentos Tóxicos. Esse tipo de coisa.
Set em sua representação ambígua. |
Set é filho de Nut e Geb, irmão de Osíris, Isis, Néftis. É dito em “O Livro dos Mortos” que Set, embora seja um deus do “Caos”, previne o fim do mundo todas as noites, ao entrar na embarcação de Rá e lutar contra Apófis, ou Apep, a Serpente da destruição, como podem ver na imagem a seguir.
Sua representação, diferente de muitos outros deuses egípcios, é ambígua, de forma
que nunca soubemos ao certo qual animal é este representado em sua cabeça. Em
parte, esta representação foi parcialmente culpada por sua demonização. Durante o
período de expansão Helenística, quando os gregos passaram a conhecer diversas
outras culturas e outros deuses, acabaram fazendo sincretismos e botando a culpa
dos deuses terem “fugido” e tomado outras formas em uma criatura terrível
chamada “Tifão” ou “Typhoon”, que também era pai de outras bestas como o
Leão de Neméia, etc. O fato é que quando os Gregos ficaram sabendo das
principais lendas de Set, somado à sua representação ambígua acabaram por associar
este animal misterioso à um dos filhos de Tifão, e mais pra frente foi associado
com “Shaitan”, ou “Satan”, o opositor. Essa fama negativa perdura até hoje em
alguns fóruns BR de Kemetismo, e eu não sinto nada além de um profundo
desgosto por qualquer um que afirme isso.
E que lendas são estas, John, que fizeram com que um Deus tivesse tanta má fama?
Já falei de uma de suas três lendas mais conhecidas, e também a melhor delas. As
outras duas foi o dia em que ele esquartejou Osíris em cem pedacinhos e espalhou,
e a outra foi o dia em que ele enfrentou a “criança escolhida”. Maravilha.
Osíris, como vocês bem devem saber, é o Senhor do Sub-mundo, casado com Ísis,
embora a primeira alcunha nem sempre tenha sido assim. Tanto Ísis quanto Néftis
representam diferentes aspectos de “Binah”, a Sephira da grande mãe. Uma
representa a fertilidade do Oeste, e outra do Leste, embora eu não me recorde
nunca sobre qual é qual. O fato é, Néftis era casada com Set, e sempre teve inveja
de Ísis por ser mais... Reconhecida. Néftis traiu Set com Osíris, como forma de
provocar a irmã.
É, eu sei o que parece, uma novela Mexicana, mas fica vendo.
Isso despertou uma enorme fúria em Set, e em um dos aniversários de Osíris, o
esquartejou em vários pedacinhos e os espalhou pelo deserto, adquirindo assim o
Trono e se tornando o Faraó do Egito do Norte. Néftis teve um filho, que muito
provavelmente vocês conhecem: Anúbis.
Alguns citam Set como pai de Anúbis também, mas como não podemos fazer
exame de DNA em deuses, iremos confiar no que faz sentido cabalisticamente.
Ísis mandou Anúbis catar cada pedacinho de Osíris e no processo de cura, ele virou
Deus do pós-vida, trabalhando com Anúbis, Maat, e cia. Mas Ísis também teve um
filho com Osíris. Este era Hórus, que na época era Faraó do Egito Sul. Essa parte
da lenda foi (bem mal) adaptada no filme “Deuses do Egito”. Só que na história
original tem menos robôs. Provavelmente.
Um dos embares de Set e Hórus. |
As batalhas de Hórus e Set eram sempre sangrentas e violentas, até que um dia,
numa batalha especialmente violenta, os deuses se reuniram para decidir o futuro de
quem seria o Faraó do Egito. Ísis, por incrível que pareça, votou em Set, pela sua
experiência. Hórus arrancou a cabeça dela.
Mas nada temam, Tot conseguiu curá-la, e o veredito foi justamente o dele. No
fim, Hórus ganhou, e esse dia representou a unificação do Egito. Set foi banido
para os desertos, e por isso ganhou o título de “O senhor da Terra Vermelha”. Set
foi vilão no filme supracitado Deuses do Egito, e também no primeiro livro das
Crônicas dos Kane, escrito por Rick Riordan.
Eu tenho algumas considerações finais sobre este deus.
“Deus do Deserto e das Tempestades? Isso não é meio contraditório?” Aos olhos
de um leigo, talvez, mas deixe-me explicar... Set é o deus do Caos necessário para a
mudança e do sacrifício inevitável. Isso não é pouca coisa. Já ouviram a frase “Ou
você morre como um herói ou vive o suficiente para se tornar um vilão”? Então. Set
não é um herói, e sabe disso.
Vários epítetos o chamam de “Transgressor” ou “Aquele que não obedece as leis”.
E embora isso pareça ruim, não é. Set é o deus das Revoluções. Set é o tipo de deus
que não se importa em quebrar uma sociedade inteira se isso for levar a algo ainda
melhor. Ele é o Caos, que, de alguma forma bizarra, te leva a algum lugar que você
nunca pensou que estaria antes. Por isso ele trabalha bem em relacionamentos
tóxicos, por exemplo. Mas antes de ficarem animados... Lembrem-se: Set quebra.
Ele é o Caos. Ele vai te testar ao máximo. Vai te fazer chegar no limite, para em
algum momento, você olhe para trás e perceba todo o trabalho que conseguiu
concluir, e o quão longe você chegou. Ele gosta de quem vai atrás. Sem dramas. Ele
quebra. Ele parte. Ele sacrifica.
Mas sacrificar nunca é agradável. É sempre doloroso. Algumas pessoas acham que
sabem o quão doloroso é um sacrifício por ter algum parente que morreu. Eles não
sabem. Eles sabem sobre perda.
Set vive em um enorme e infindável deserto vermelho de sacrifícios para que suas
tempestades possam chegar ao Nilo, e fertilizar a terra de alguém. É algo doloroso,
mas necessário.
Nada mais justo para um Deus do Caos do que eu citar Caoísmo neste post: Caso
alguém esteja querendo fazer um sincretismo com algum personagem por meio de
Pop Magick, aqui vão dois: “V” em “V de Vingança” (HQ escrita por Alan
Moore e David Lloyd) e “Kiritsugu Emiya” de “Fate/Zero” (Light Novel por Gen
Urobuchi. Tem uma adaptação em anime pela Ufotable).
Considerações aos cabalistas:
Embora a cor de Set seja vermelho, acredito que associar ele com Geburah seja
incompleto. Chokmah (Cujo a cor é cinza), esfera que representa o primeiro
movimento, e o “Grande Pai” das 3 Supremas, no pilar da Misericórdia seria o
ideal por motivos relativamente simples.
Chokmah é o primeiro movimento, a primeira força, para depois ser balanceada por
Binah. É o primeiro impulso caótico que o todo sofre. Kether é um todo, porém
passivo, e assim que há movimento em si, passa a ser Chokmah. Nada caracteriza
tanto Set quanto movimento. Um movimento caótico cheio de possibilidades e de
futuro promissor para a criação. Em minhas pesquisas, os deuses e deusas
associados a Chokmah também possuem atributos de semelhança a Set,
especialmente no que diz respeito à tempestades, então acredito que fazer essa
associação não seja tão errônea assim.
- John Cavalcante
Muito bom o artigo, gostei de saber mais sobre Set. Nunca ouvi falar nele, mas agora me aprofundarei mais! Obrigado, e continue postando mais e mais...
ResponderExcluirParabéns pela história do deus Set, interessante pois esse deus é pouco divulgado. A critica sobre a representação do deus do caus se faz necessário para as adversidades da vida, muito legal amei. Apenas uma observação não seria 14 ou 42 pedaços que o deus Set esquartejou Osíris? Esses pedações representariam o periodo da mudança das luas ou número das divisões das províncias Egito antigo.
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