- H.P. Lovecraft em seu conto "O chamado de Cthulhu"
O jardim do Éden |
Talvez coisa mais comum dentro do meio ateu, cético ou ocultista (por incrível que pareça) é o questionamento sobre Gênesis e a história da queda de Adão e Eva após serem seduzidos por uma serpente falante e terem provado do fruto do conhecimento. No mundo moderno, há bastante valorização da busca por conhecimento, culpa dos avanços mecânicos adquiridos pós revolução industrial, onde a força bruta humana passou a ser menos necessária, e por tanto, menos valorizada. Desde então, começa a era científica do homem, onde o conhecimento passa a valer como um ponto de utilidade muito maior, e por tanto, deve ser buscado (Não podemos negar também que há muito da filosofia iluminista de valorização da razão, etc). Com isto, surgiram diversos questionamentos: Por que Deus estava querendo manter Adão ignorante? Por que não dar conhecimento a ele? Avanços só podem ser feitos por meio de conhecimento, Deus não queria que ele evoluísse?
Claro, também existem outras teorias que dizem que por exemplo, a maçã (???) era na verdade uma analogia ao sexo (o que também causa uma certa controvérsia); ou que era uma previsão para a utilização dos produtos Apple... Enfim. Venho desempenhar o papel da serpente maldita, para a alegria de ninguém.
A primeira coisa que devemos lembrar é que Gênesis não é um livro exclusivamente (ou sequer foi inventado por) cristãos. De origem Hebraica, Gênesis é o primeiro dos livros sagrados da Torá judaica, onde é conhecido por Bereshit (Na verdade, é uma fração deste). Com isto em mente, é natural de qualquer ser pensante com seus plenos parafusos querer usar a lógica da Tradição judaica para explicar o que é escrito nos livros sagrados, correto?
Tradição. Esta é uma palavra importante aqui; que se traduzirmos para o hebraico, dá em algo que qualquer um que viva no meio de religiões underground por um tempo já deve ter ouvido falar: Kabbalah. A Kabbalah, ou Cabala, pra ficar mais simples, é a tradição judaica que fala sobre a Sepher Yetzirah, ou melhor, sobre a árvore da vida. Esta árvore metafórica é um mapa de associações complexas energéticas, que, por mais que eu gostaria de explica-las para todos os leitores, isso demandaria mais posts, energia e conhecimento do que o que este que vos escreve possui.
Para simplificar e contextualizar, usarei de um conceito mais simples do Hermetismo, que pode ser facilmente encontrado em "O Caibalion": A lei da Polaridade.
"Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados "
A polaridade revela a dualidade, os opostos representando a chave de poder no sistema hermético. Mais do que isso, os opostos são apenas extremos da mesma coisa. Tudo se torna idêntico em natureza. O claro e o escuro também são manifestações da luz. A escala musical do som, o duro versus o flexível, o doce versus o salgado. Amor e o ódio são simplesmente manifestações de uma mesma coisa, diferentes graus de um sentimento.
Isso também remete à famosa lei das correspondências: "Tal é em cima como é embaixo." (Assim na terra como no céu).
E agora, para elucidar ainda mais a questão, usarei de um ditado popular: "A diferença entre o veneno e o remédio é a dose.". Dentro da árvore da vida, temos esferas, as Sephiroth, e os caminhos, onde cada um simboliza um tipo de energia benéfica e importante para a Jornada do Louco, isto é, a Jornada do Herói. Mas claro que, equivalente às energias benéficas que existem também as maléficas. As qlipphot, ou cascas, são consequência inevitável da existência de uma árvore da vida. E as duas, representam duas oitavas de uma mesma coisa.
Tomemos a Raiva, por exemplo. Em sua Sephira, a Raiva é uma força que impulsiona à correção de erros e identificação de injustiças, enquanto apoiada na razão e sendo feita pelo amor ao próximo. Em sua Casca, a raiva se torna destruição, ódio, ira. Perca da razão e aversão a tudo, e desejo de destruição. E a única diferença entre as duas coisas é o controle.
Agora que vocês estão plenamente introduzidos ao conceito básico disto, precisamos falar do fruto do conhecimento. Conhecimento, ou Daath em hebaico, é um dos frutos da árvore da vida, aquele que causou a queda dos, supostamente, seres perfeitos. Daath na Kabbalah é um portal da árvore da vida para a árvore da morte e vice-versa. É o momento decisivo que irá forjar o bem na adversidade, ou fazê-lo decair para sempre em trevas obscuras proporcionais ao bem que poderia fazer. É o momento em que as espadas quebram, onde os mártires morrem e onde a dura realidade vai bater com toda a força que poderá fazê-lo. É olhar para o abismo e ver que tudo, um dia, pode dar errado. Que todo a sua beleza, misericórdia e severidade podem se transformar em egocentrismo, em gula e ira.
E é isto que Adam Kadmus experimentou. Todo ser humano possui vontade de receber e vontade de doar. Pense nisso em termos de sexualidade masculina e feminina. A fêmea "recebe", o macho "doa". Adão e Eva são duas polaridade de um mesmo ser. Não o primeiro ser, mas o primeiro ser que pensou sobre si.
Morder o fruto do conhecimento do bem e do mal é perceber que ambos os conceitos são aplicáveis ao universo, e também a si. É encarar que talvez, nem tudo seja tão benéfico assim para sempre. É perceber as próprias falhas pela provocação. Mesmo que não haja outro Deus senão o Homem, continuar a se considerar "puro" mesmo depois de ver tudo, de ver como todas as suas virtudes podem se transformar em algozes seria no mínimo mentir para si mesmo.
Não é um processo agradável, mas é necessário. Espadas afiadas só podem ser feitas à partir de muito fogo e muita marretada. Então a pergunta é: Deus quer nos manter longe do conhecimento? Nos quer ignorantes para com o mundo e manipulados por sua igreja? Ou seria esta uma passagem que reflete o processo interno de conhecimento de nós mesmos? Depois de toda esta escrita, acredito que vocês saberiam responder a grande questão.
Um recado do autor: Sinto muito sobre o quão parado nosso blog arcano maior está. Maior parte dos administradores tem passado por situações duras e nem sempre temos todo o tempo do mundo para dar atenção a este blog, especialmente porque maior parte de nós coordena outras páginas no facebook, mas prometo que fazemos o possível.
A primeira coisa que devemos lembrar é que Gênesis não é um livro exclusivamente (ou sequer foi inventado por) cristãos. De origem Hebraica, Gênesis é o primeiro dos livros sagrados da Torá judaica, onde é conhecido por Bereshit (Na verdade, é uma fração deste). Com isto em mente, é natural de qualquer ser pensante com seus plenos parafusos querer usar a lógica da Tradição judaica para explicar o que é escrito nos livros sagrados, correto?
Tradição. Esta é uma palavra importante aqui; que se traduzirmos para o hebraico, dá em algo que qualquer um que viva no meio de religiões underground por um tempo já deve ter ouvido falar: Kabbalah. A Kabbalah, ou Cabala, pra ficar mais simples, é a tradição judaica que fala sobre a Sepher Yetzirah, ou melhor, sobre a árvore da vida. Esta árvore metafórica é um mapa de associações complexas energéticas, que, por mais que eu gostaria de explica-las para todos os leitores, isso demandaria mais posts, energia e conhecimento do que o que este que vos escreve possui.
Para simplificar e contextualizar, usarei de um conceito mais simples do Hermetismo, que pode ser facilmente encontrado em "O Caibalion": A lei da Polaridade.
"Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados "
A polaridade revela a dualidade, os opostos representando a chave de poder no sistema hermético. Mais do que isso, os opostos são apenas extremos da mesma coisa. Tudo se torna idêntico em natureza. O claro e o escuro também são manifestações da luz. A escala musical do som, o duro versus o flexível, o doce versus o salgado. Amor e o ódio são simplesmente manifestações de uma mesma coisa, diferentes graus de um sentimento.
Isso também remete à famosa lei das correspondências: "Tal é em cima como é embaixo." (Assim na terra como no céu).
E agora, para elucidar ainda mais a questão, usarei de um ditado popular: "A diferença entre o veneno e o remédio é a dose.". Dentro da árvore da vida, temos esferas, as Sephiroth, e os caminhos, onde cada um simboliza um tipo de energia benéfica e importante para a Jornada do Louco, isto é, a Jornada do Herói. Mas claro que, equivalente às energias benéficas que existem também as maléficas. As qlipphot, ou cascas, são consequência inevitável da existência de uma árvore da vida. E as duas, representam duas oitavas de uma mesma coisa.
Tomemos a Raiva, por exemplo. Em sua Sephira, a Raiva é uma força que impulsiona à correção de erros e identificação de injustiças, enquanto apoiada na razão e sendo feita pelo amor ao próximo. Em sua Casca, a raiva se torna destruição, ódio, ira. Perca da razão e aversão a tudo, e desejo de destruição. E a única diferença entre as duas coisas é o controle.
Agora que vocês estão plenamente introduzidos ao conceito básico disto, precisamos falar do fruto do conhecimento. Conhecimento, ou Daath em hebaico, é um dos frutos da árvore da vida, aquele que causou a queda dos, supostamente, seres perfeitos. Daath na Kabbalah é um portal da árvore da vida para a árvore da morte e vice-versa. É o momento decisivo que irá forjar o bem na adversidade, ou fazê-lo decair para sempre em trevas obscuras proporcionais ao bem que poderia fazer. É o momento em que as espadas quebram, onde os mártires morrem e onde a dura realidade vai bater com toda a força que poderá fazê-lo. É olhar para o abismo e ver que tudo, um dia, pode dar errado. Que todo a sua beleza, misericórdia e severidade podem se transformar em egocentrismo, em gula e ira.
E é isto que Adam Kadmus experimentou. Todo ser humano possui vontade de receber e vontade de doar. Pense nisso em termos de sexualidade masculina e feminina. A fêmea "recebe", o macho "doa". Adão e Eva são duas polaridade de um mesmo ser. Não o primeiro ser, mas o primeiro ser que pensou sobre si.
Morder o fruto do conhecimento do bem e do mal é perceber que ambos os conceitos são aplicáveis ao universo, e também a si. É encarar que talvez, nem tudo seja tão benéfico assim para sempre. É perceber as próprias falhas pela provocação. Mesmo que não haja outro Deus senão o Homem, continuar a se considerar "puro" mesmo depois de ver tudo, de ver como todas as suas virtudes podem se transformar em algozes seria no mínimo mentir para si mesmo.
Não é um processo agradável, mas é necessário. Espadas afiadas só podem ser feitas à partir de muito fogo e muita marretada. Então a pergunta é: Deus quer nos manter longe do conhecimento? Nos quer ignorantes para com o mundo e manipulados por sua igreja? Ou seria esta uma passagem que reflete o processo interno de conhecimento de nós mesmos? Depois de toda esta escrita, acredito que vocês saberiam responder a grande questão.
Um recado do autor: Sinto muito sobre o quão parado nosso blog arcano maior está. Maior parte dos administradores tem passado por situações duras e nem sempre temos todo o tempo do mundo para dar atenção a este blog, especialmente porque maior parte de nós coordena outras páginas no facebook, mas prometo que fazemos o possível.
Texto incrivel! Espero que continuem com o bom trabalho. Parabens!
ResponderExcluirNão quero que vejam esse comentário como um fanatismo ou como insulto, até por que sou muito fã do blog. Eu sou um cristão, mas não tenho preconceitos, até por que na verdade não sigo uma religião em especifico. Eu amo estudar hermetismo e variáveis, então gostaria de dizer que na minha visão de um ser supremo que representa toda a totalidade da existência sendo ele a existência e também singular já que na própria Bíblia vemos dois exemplos que dizem: '' Eu sou Alfa e Omega, inicio e o fim '' ou quando moisés perguntou qual o nome de Deus e ele disse '' Eu sou o que sou '' ( Yehova ) que representa na vdd eternidade, tudo, vejo que se ele realmente ama sua criação ( que é a própria imagem dele, sendo ele um ser perfeito a junção dos dois polos, representando na criação dele a sua imagem cada polo ) ele cuidaria de ensinar a verdade aos poucos, pois eles ingênuos e novos, não teriam capacidade pra receber toda essa informação e verdade, pois a única forma de ver a verdade sem o desespero os alcançar é sendo ensinado aos poucos, e não experienciado como o fizeram. Se Deus realmente não queria que Adão e Eva não soubessem disso ele não daria a oportunidade, no caso, Adão e Eva preferiram a ganância de pensar em si, tendo inveja da totalidade e grandiosidade de seu senhor do que aprender com ele, sem mesmo confiar num ser que nada de mal fez a eles em momento algum. Acredito na bondade de um ser que da oportunidade de ser o que quer ser, eles sabiam da consequência e arriscaram, não da pra culpar Deus no meu ver.
ResponderExcluirEnfim, desculpe o texto gigante, adoro as postagens <3
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